# 6 - Texto pandêmico, você mudou (e sabe disso) e a saudade de quê?
15 de abril, São Paulo.
Oi, caro leitor, cara leitora!
Como está por aí? Estimo que bem, de verdade!
Aqui, dentro de casa, trabalhando no tal do home (todos aqui, aliás), salário no fim do mês, com comida na geladeira, com saúde, sim, tudo bem... O problema é que da porta pra fora muuuuitas pessoas não têm nada disso. Isso que é muito difícil de encarar. E, pior ainda, algumas pessoas não têm mais os seus pais, mães, tios, avós, irmãos...
A OMS divulga que o crescimento da pandemia é “exponencial” e que apenas vacinas não conterão o vírus, aí bate aquele medo de tudo continuar, por muito tempo, como está, dado que a palavra e o conceito de DISTANCIAMENTO SOCIAL ainda são desconhecidos por algumas bandas aí.
Enfim, a incerteza, a suspensão, mais uma vez.
Ainda bem que tenho este espaço aqui pra lançar algumas groselhas, que você pega aí e faz um suco bem delícia, se quiser, se puder...
(só lembrando, leitxr, que escrevo demais da conta, então essa cartinha quase sempre fica enorme. assim, é preciso clicar em EXIBIR TODA A MENSAGEM no final do email, ok? veja a foquinha dando linha, certo?)
Vamo dançando que é pra não ter um treco!
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Coloquei esse gif de alguém dançando em homenagem ao texto da Patti Smith, em sua newsletter de hoje. Li alguns textos da versão gratuita, adorei. Ouvindo Under My Thumb, dos Stones, no talo!
Tempo de suspensão, tempos sufocantes
Em agosto do ano passado, escrevi um texto no quase extinto Facebook sobre os efeitos desse período turbulento em que todos estamos inseridos, sei lá como podemos chamar o que vivemos hoje.
Bom, lá pensei como numa espécie de “brainstorm-cronológico-social-coletivo-louco-pandêmico-vem-vacina-sai fora coronga” – detesto o título "brainstorm”, mas manterei a palavra pela fidelidade registrada à época. Ficamos em casa, todos aqui, pensando nos desdobramentos e criando possíveis cenários, enaltecendo as constatações mais óbvias e as absurdas. E é isso aí mesmo, as coisas andam de mal a pior, meio loucas, meio doentes, esperando por vacina, almejando a tal normalidade, se é que virá, ou já existiu algum dia.
Pesquei alguns pensamentos deste texto para continuar a refletir e, de certa forma, atualizar algumas noções, confrontar com a realidade em que vivo, hoje, talvez você também...
Então, lá no começo, teve aquele susto mundial com a construção de um hospital a toque de caixa, nos levando a pensar em algum tipo de caos iminente, certo? Bem, com os estudos e pesquisas atuais, já é possível dizer que não foi o mercado local em Wuhan que “iniciou” a pandemia, nem que um laboratório deixou o vírus escapar, como disse aquele ser humaninho que não se elegeu. Coisa de maluco xenofóbico mesmo!
Nessa época, o sentimento que prevalecia era “ficar livre do corona’s”, mas o que era o corona vírus? E o que é? Será que o que já sabemos é suficiente? Ele muta e muta e muta! Mutação, variante, cepa, linhagem, não sabíamos nada sobre isso. Continuamos sem saber. E pensar que foram só 30 pessoas da família de um homem que viajou para a Itália que precisaram se isolar... Hoje é o sentimento/luta de muitos brasileiros: de não contrair a doença ainda sem muitas informações, por incrível que pareça, totalmente mutável e altamente transmissível. Bizarro!
E na política, o governo Bozo e sua corja, desde a gripezinha, o histórico de atleta e, mais pra frente, jacaré, continuam contribuindo com negacionismos e fake news e, como falar e fazer são ações, então sim, eles estão agindo bem: falando e fazendo bosta e, indiretamente, matando pessoas. Na verdade, não há, nem nunca houve alguma ação eficaz por parte desse governo para combater os efeitos da pandemia, tanto que foi aberta uma comissão parlamentar de inquérito para apurar as irresponsabilidades desse governo nefasto. E já não era sem tempo!
Quando me referi, no texto inicial, sobre a imposição de ficar em casa e a quarentena, algo totalmente inédito – situação que se mantém atual e necessária –, pensava numa perspectiva de restrição de liberdade e como se daria isso, como seria a repressão pra que a quarentena se impusesse eficiente. Ao passo que as coisas foram ficando sérias e mais informações sobre a doença foram noticiadas, comecei a enxergar como mandamento absolutamente necessário e eficaz: a única forma de conter o vírus seria sossegar o facho em casa, para que o vírus parasse de circular. Continuo pensando assim, além de considerar um lockdown com mais seriedade. Mas já pensou em como manter um isolamento eficaz nas periferias, vielas?
Como não citar e pensar nos profissionais de saúde e no SUS, como não ressaltar que foram tão essenciais quanto os cientistas que tornaram a vacina possível tão rapidamente? Enfermeiros, técnicos, médicos, assim como cuidadores de idosos e todo tipo de pessoa que se arriscou e ainda se arrisca no front, um VIVA pra todos vocês! E VIVA O SUS! VIVA A CIÊNCIA!
Os profissionais da saúde lutam, desde o começo da pandemia, com a falta de suprimentos para que seu trabalho seja minimamente possível. As máscaras lá no começo, e agora não têm oxigênio em meio a uma crise sanitária grave! Falta medicamento de sedação! Falta luva! Como isso pode estar acontecendo?
O assunto foi, é e será máscara. Máscara faltando para os profissionais in loco pandêmico, pessoas tirando um troco com máscaras, uso correto e incorreto das máscaras, materiais indicados para as máscaras, os diversos estilos de máscaras (Neoprene, dois tecidos, de TNT, tricô!) e máscara no queixo! Alguns apontamentos sobre o tema. Virou fonte de renda de geral a confecção de máscaras de diversos materiais e estampas, e que bom por isso! Hoje, porém, é necessário pensar menos na estética e mais na eficiência da dita cuja, é menos tricô, mais N95/PFF2, é menos queixo, mais boca e nariz. Ao lado do amigo álcool’n’gel, ela será companheira por um bom tempo...
Ah, o tempo! Compositor de destinos? Tempo-rei? Nem foi tempo perdido? No momento presente, o tempo se arrasta para algumas, para outras, passa como um foguete. Depende de cada um e de uma gama de fatores: a mobilidade, a necessidade da presença, agora de maneira online, as tarefas e o repouso, etc. O tempo é algo subjetivo, porque é como cada pessoa lida com essa percepção das coisas e lidar com esta régua que é o tempo, é mais uma questão de saber como gerenciar ou estruturar o tempo que se tem com as demandas que são colocadas. Afinal, num estado de total alteração dos fatores, temos mais tempo ou temos menos tarefas agora?
Outro aspecto são os efeitos de tantos traumas que carregamos – algumas pessoas em graus maiores e a pandemia é mais um –, que desorganiza as percepções. E por quantas vezes já negamos a situação, hein?
Me pareceu estranho, inicialmente, mas acreditei num "case de sucesso" (risos): acordar cedo pra aproveitar o dia + criar uma rotina possível + fazer algum exercício, qualquer um + se alimentar bem (menos açúcar, gordura, etc.) + tomar um pouco de sol (ver gente e a natureza ajudam muito tbm) e, de maneira absolutamente essencial, sair dos dispositivos móveis, celulares e seus semelhantes, pelo menos um pouco. Funfa!
E a saúde mental? É possível afirmar que a depressão e a ansiedade são agravadas na pandemia, como indicam pesquisas. Isolamento, solidão, falta de recursos financeiros e o medo agravam distúrbios de ordem psicológica, muito acentuados nesse período. Não há telemedicina que dê conta!
Os inúmeros casos de violência doméstica e todo tipo de violência são devastadores. A cada minuto, 25 mulheres são vítimas de violência, seja ela física, psicológica ou sexual. É aterrorizante! A quarentena está carregada de estresse e tensões de todos os tipos, ao consumo de álcool e drogas, inflando o machismo que impera na sociedade, nas desigualdades e violências de todos os tipos contra as mulheres. Da mesma forma, a violência policial atinge hoje níveis alarmantes, onde roubos e outros crimes caíram, mas a violência continua falando mais alto: xs jovens pretxs faveladxs continuam morrendo mais.
Lá no começo, a contagem de mortes do meu texto era de por volta de 105.000, sem subnotificados. Hoje, data da edição final deste texto, 362.000 óbitos acumulados.
>> Criar mundos, pensar sobre algum possível com o que se apresenta hoje é uma tarefa necessária, até para começarmos a aceitar que muita coisa mudou. Mas penso que estamos em pleno lançamento, rumo a algo que ainda não sabemos bem. E esse tempo do medo e da incerteza é, por vezes, sufocante. <<
Outras brisas pensadas há 1 ano atrás que você pode repensar hoje:
Cursos online / Yoga, meditação, pedalando em casa / Pão com fermentação natural (não tem fermento no mercado!) / Plantas/homeoffice / "eu" mais online que nunca! / Oba, agora posso ler meus livros! / Ser online! / Produzir, mesmo no meio de uma pandemia / O breque das novelas! (saudade da Lurdes procurando o Domenico – edit: ela o encontrou!) / Essa necessidade de fazer algo e compartilhar / Coachs de saúde, o fitness (cadê Pugliese?) / o coaching da Pugliese é o novo patrão dos exercícios online, o jogo virou, não é mesmo? / Foda-se a vida? / Coach dos coachs de todos os tipos / Ministros caindo, cenário político que reflete o que estamos sofrendo / Subnotificação / Relação das pessoas com a casa (aprender a lavar um banheiro hein, meu filho?) / Muito café / Limpar a casa toda hora / Lavar a louça toda hora / Como tenho louça! / Por que tenho tanta louça? / Não lavar tanta roupa / Não usar maquiagem / Não usar sutiã, nem tênis / Reconhecimento dos pijamas (tem um mais lindo que o outro mesmo!) / Lives sertanejas, as precursoras / Live do Léo Santana e “a cada 10 mil pessoas, doarei 10 cestas básicas p/ comunidades de Salvador”, oi? / Live da Lady Gaga, mundo todo! Live mundial! / Lives para um c****** / Redes sociais, memes / Expressões como “novo normal” / Pessoas que têm que trabalhar / Etiquetas para o homeoffice / O delay / Relação com a família o dia todo, linda, mas difícil! / Estar mais em casa, curtir a casa / Ninguém se suporta mais! / Maratona de séries / espero que as que vi não renovem ano que vem / Compras online, muitas compras online / O ZOOM e aplicativos de videoconferência /Entrevistas de emprego via aplicativos de videoconferência / Desemprego! / Auxílio emergencial / Auxílio emergencial em análise / Falta de grana / Divórcios / Depressão / Abuso de álcool e drogas que crescem durante a pandemia / Solidão / MORTES! / Quarentenaaa / Imagens das covas abertas em cemitérios / E quem mora sozinha/o nesse momento? / Falta dos shows / E os músicos, atrizes, atores? E a cultura que depende de público? / Saudade de aglomeração / (saudades, shows!) / Festa de aniversário online / Drive-in: show, culto, cinema, tudo no drive-in / Quarentenaaa / Reconhecimento dos epidemiologistas (alô, Atila!) / Reconhecimento da ciência, ou não / Produção científico-acadêmica sobre a pandemia e seus desdobramentos / Atenção aos dados e gráficos sobre a pandemia (e zero atenção às mortes!) / Como está a religiosidade nesse momento? (não sei falar muito sobre isso) / Entregadores de aplicativo – empreendedores si mesmos? / Post lacrador, foto lacradora / Histories no Instagram / TBT no Instagram / O flerte na quarentena, tá rolando? / (não sei falar sobre isso) / Os casamentos online / Maternidade na quarentena / Atenção para os olhos, no melhor estilo O Clone / Ausência de sexo na quarentena / Ausências das pessoas / Saudade / E as pessoas que perderam seus familiares e amigos? Muito triste! / Vacina e como se dará essa imunização? (os fura-filas, as vacinas falsas...)
(Lembrando que esta é apenas uma visão das coisas, a minha, que pode não contemplar a realidade de outras pessoas!)
E você já parou para refletir como você era antes disso tudo?
Uma matéria diz que não seremos mais quem fomos e pensei aqui em situações, no mínimo estranhas, que podem contribuir com essa mudança do eu: por exemplo, quando funcionários dos estabelecimentos limpam tudo em que você tocou com álcool e Lysoform; ou o seu café preferido ou seu bar do coração está todo desconfigurado ou, pior, fechado! (sdds Hotel Bar); sua própria relação com o que você se tornou, se vendo em stories e dando pitacos por meio de tweets; ou seus amigos, que não serão mais os mesmos, muitos rasparam a cabeça ou cortaram a franja e você passou a ser um TBT! Parece bobo e, sem dúvidas, existem crises bem piores que essa que te farão mudar. Mas isso tudo te fará mudar também. Pode apostar!
Você sabe que muita coisa mudou! Você sabe o quanto se controlou, ou no que exagerou. Você passa a se interessar por sua casa, sua família, suas coisas ou nem pensa nisso tudo. Você passa a se olhar melhor e pensa: “como seria se eu vivesse/fizesse/sentisse/desejasse/sonhasse/usasse/fosse/tentasse/falasse isso aqui?” Você se vê diferente, perceba. Você sabe que mudou, que é definitivamente outrx.
(ver as tirinhas da revista New Yorker, link abaixo )
Uma saudade: assistir a um show, lotado, se espremer com outras pessoas tão fãs quanto você, procurar o melhor lugar, ficar suada, cantar, gritar, se emocionar, sair de lá rouca, vendo a banda que eu gosto, aff, que saudade disso! E na Austrália, país que conteve a Covid, teve show com 13 mil pessoas, sem distanciamento, nem máscara e nem bolhas no estilo Flaming Lips. A banda foi o Midnight Oil, que se apresentou no fim de março e o Tame Impala já esteve por lá no começo do mês. Um sonho distante? Espero MUITO que não.
E com você, qual a sua saudade? Me liga, me manda um telegrama...
Foi confirmada, pelo STF, a decisão pela instalação no Senado da CPI da Covid, para apurar ações e omissões do presidente atual na condução dessa crise sanitária. (vi na Folha de São Paulo)
Hoje a indicação que conta algo pro mundo é feita pela Fernanda Lima, amiga querida, que criou o Poesia de Bolso.
Leia um de seus textos:
“Ela olhava pra ele de forma doce e atenta admirando a barba cerrada cultivada com muito afinco, os olhos castanhos que ganhavam um tom de mel quando a luz do sol iluminava seu rosto e a boca carnuda que se movimentava de forma gentil e fluida. Ela sustentava o olho no olho enquanto ele contava sobre alguma aventura inconsequente que teve uns anos atrás. Cada palavra dita num timbre grave fazia cócegas perto do umbigo.
De repente, sua gargalhada ecoou até três mesas de distância. A história era boa, mas a graça veio depois de perceber o que estava acontecendo com ela mesma. Jogou a cabeça pra trás com os olhos fechados. Seus cabelos dançavam junto com a risada. Seu sorriso espalhado no rosto era genuíno! Quando o riso silenciou, fixou o olhar nele. Todos em volta podiam perceber seu semblante iluminado. Ela também tinha o poder e sabia disso. Ele a fez rir, e ela o conquistou pelo seu riso.”
A procure no Medium, ou IG, para acompanhar suas próximas produções.
Valeu, Fê!
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Tem gente que precisa comer! O Solidariedade Vegan, criado pelo João Gordo e Vivi Torrico, tocam esta ação, distribuindo marmitas sem crueldade para pessoas em situação de rua. Quem quiser e puder ajudar, tem o Catarse deles:
https://www.catarse.me/solidaridade_vegan_maritas_sem_crueldade_animal_9084?project_id=112847
😂
Deus abençoe esta família: excelente vídeo sobre a regra dos 5 segundos.
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Gostei do texto (extenso) da Elisangela Roxo, jornalista responsável por uma matéria do Portal Terra, há 10 anos atrás: as fotos de um despretensioso Caetano Veloso andando sozinho no Leblon, RJ, em 2011, depois de estacionar o seu carro. Uma cena tão trivial, tão “zero likes”, mas que mantém jovens jornalistxs presxs em instantes, banalizando momentos. Ela existe e merecia uma resposta do Caê, né?
📚
Vídeo da Quatro Cinco Um, a revista dos livros, lá de 2020, quando rolou o papo sobre a taxação sobre livros. Agora reacende a polêmica, sob a alegação que a parcela rica da população lê, o que é uma grande mentira, convenhamos... Não ao imposto do livro, defenda o livro o quanto puder!
💭
Tirinhas da New Yorker: visões de um futuro pós-pandêmico, em que todo mundo está se metamorfoseando em outra pessoa, ou outra coisa...
⚽️
Um vídeo lindo, mostrando o olhar de uma criança de 3 anos, que se esforça para encontrar alguma alegria em meio a uma pandemia.
🎧
Pra fechar, uma trilha maneira, com essa banda massa demais: Khruangbin. não irá se arrepender, eu garanto! Deita, pega seu goró e relaxa!
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~ esta foto é de julho de 19, na Flip, em Paraty. foi uma viagem massa cazamiga. saudade dos amigos, cerveja, viajar... ~
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Um beijo, um abraço,
Fer
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Até, mothafóca!