# 5 – Fitônias e jiboias, Bernardine Evaristo e o navio encalhado
30 de março, São Paulo.
Oi!
Como anda essa força?
Espero que bem, principalmente de saúde, porque a máxima é verdadeira: quando saúde tá ok, com resto a gente segue.
(nossa, pareço uma tia, né? hehehe)
Há de se pensar, igualmente, na saúde da nossa cabeça, afinal, todos somos plantinhas com sentimentos, né? Pensa nisso e tenta não surtar, ok?
Pensando em saúde, me veio aqui a última vez que fiquei doente. Faz uns dois anos, sério! Mas adoecer de adoecer mesmo, de ficar de cama, manja? Horrível! E hoje estou/estamos vendo o pavor das pessoas adoecendo por aí (e morrendo!) com esse vírus lazarento... que merda! Desculpe a palavra, mas nada mais consegue descrever isso tudo: QUE GRANDE E ODIOSA MERDA!
o vírus matando todos lá fora :(
Só lembrando que as coisas ficarão bem sim, um dia e, por agora, o que temos a fazer, pelo menos é a forma que tenho lidado, é nos cercar dos nossos (não tem nada pra fazer na rua, gente), nos munir de mantimentos, trocar uma ideia com os amigos e família pelo zoom/zap/DM/Messenger/janela, discos e livros e nada mais!
Pulei a edição do dia 15 por motivos de: mudei o horário do trabalho e, com isso, me enrolei com os textos, edição e zaz ... não rolou! Mas já tô por aqui, para a vossa alegria!
Bom, dada uma respirada inicial beeeeeemm longa (TÔ INDIGNAAAADAAA, salve Gil), vamos ler amenidades nesta curadoria linda!!
Bora!
🤸🏻
Ah, já sabe, né? Dê um tchau pra Audrey Hepburn lá no final, clicando em “exibir toda a mensagem”. ;)
“Wabisabiana”
Comprei algumas plantinhas uns dias atrás. Mas penso que nunca serei uma “mãe de planta”, agora ou depois deste período em casa. hehehe
Comprei as espécies jiboia verde, eounymus, fitônia e uma suculenta.
As deixo perto de mim, fico reparando como elas estão quando acordo (ou quando acordamos). A fitônia, por exemplo, fica com as folhas e galhinhos mais “levantados” quando ela está com temperatura e umidade ideais. Bonitinho de ver isso nela. E detesta sol. Com a jiboia parece ser igual, com a diferença que as folhas são maiores, demora mais pra se ouriçarem. As suas folhas não estão amareladas, o que parece ser um bom sinal. A suculenta transborda passividade, mas tem aparecido pequenos raminhos, não sei se dali surgirão novas “pétalas”. Ah, tem uma larva nela. Não sei o que é, preciso pesquisar...
Claro, estou descobrindo como elas se manifestam, o que precisam e o que não precisam aos poucos, vendo ocasionalmente alguns vídeos.
Muito do meu pequeno interesse pelo mundo verde se deu através da leitura de Wabi Sabi, da escritora Beth Kempton (Editora Best Seller, 2018), no aspecto da conexão com a natureza.
Wabi Sabi, na verdade, não tem uma fácil conceituação. Eu mesma não poderia descrever aqui porque também estou descobrindo diariamente esse conceito ou esta ideia, essa “tioria” e ter estas “prantinhas” faz parte desse processo de observar a natureza.
Partindo da tradução e do campo semântico, a palavra WABI significa, em japonês, “gosto suave”, que também se aproxima com a ideia de “pobreza” e “insuficiência”. Já SABI seria algo como “visual antigo”, “tranquilidade”, “solitário”.
Assim, estes dois conceitos juntos originariam as ideias de aceitação da realidade e percepção das coisas. É ver beleza profunda no simples e a tranquilidade no passar do tempo. É uso e decadência nos sentimentos, nas ações e nas coisas. É tudo questão de percepção e aceitação.
>> “Wabi sabi é algo, portanto, como uma resposta intuitiva à beleza, uma aceitação e uma apreciação da natureza inconstante, imperfeita, incompleta de todas as coisas. É o reconhecimento do presente, da vida lenta, simples e natural.” <<
Os estudos indicam que wabi sabi tenha se desenvolvido no Japão pós era medieval, a partir das cerimônias do chá e da filosofia budista, como confortos para o povo japonês e para os samurais, que encontravam momentos de paz e harmonia em meio à violência.
Com o tempo, tais cerimônias passaram a ser utilizadas por famílias da classe dominante (sempre elas!), transformando-as em eventos sociais de excessos e ostentação de louças em salas suntuosas, fugindo dos propósitos budistas.
Uma sala pequena e intimista, luminosidade minimamente necessária e proximidade entre as pessoas, para que haja escuta da respiração do outro, numa experiência verdadeiramente compartilhada é o que preconizava tais rituais. Assim, o verdadeiro intuito da cultura do chá foi a simplicidade e o estímulo à contemplação. E, se pensarmos, beber um chá ou um café deve ser um momento de paz, tranquilidade, de apreciação mesmo...
O livro indica que não será possível ver algum japonês dizer o que é o wabi sabi, ou como interpretá-lo, como entendê-lo, pois, apenas japoneses podem senti-lo, porque são japoneses, ideia da qual a autora discorda, pois todos são capazes de reagir e vivenciar, dentro do contexto de cada vida.
Isso parece bastante utópico, por vezes, dado que vivemos num mundo altamente efêmero, onde é a velocidade e a obsolescência das coisas que determinam o que somos e como nos comportamos no mundo. Tantas pessoas perdidas, inseguras e esgotadas, transformadas pela produtividade, pelo dinheiro e obcecadas por eficiência, sem estabelecer algum tipo de conexão com nada. Corpo está aqui, a mente acolá...
A preocupação é com o que ainda não aconteceu, numa grande sensação de impotência diante de tudo, sendo que o que pensamos ser a busca verdadeira não tem nome, é bem diferente do que realmente queremos.
Sempre queremos mais e não nos preocupamos com a simplicidade, com o espaço que nos rodeia, com a flexibilidade das coisas, com os detalhes, com a natureza!
Para o wabi sabi, a ideia de natureza é também uma ideia de tempo, das coisas que são como são, onde tudo é transitório, como as estações do ano, por exemplo.
Hoje, em espaços urbanos, há pouca interação com a natureza, uma conexão realmente forte e penso que podemos criar um espacinho (dentro e forra) da gente para se conectar com o que é como nós, organismos vivos e mutantes.
Tente isso, com atenção e cuidado:
cultivar plantas é um começo e pode ser qualquer planta: vê-las amarelando ou com folhas caindo, ou florescendo, se abrindo;
olhar o céu a noite, observar estrelas ou a falta delas, ou o quanto está mais rosado ao entardecer;
saber quais são as frutas e flores da estação e quais os aspectos desta dela;
sentir um chão de terra, em algum jardim perto de você;
perceber como você se sente diante do clima, como está sua saúde, qual seu estado diante do tempo;
respirar mais!
Esses momentos em casa podem fazer com que olhemos mais pra essas coisas.
🍃
Experimente!
見る 花鳥風月
ps.: o conceito de wabi sabi é muito maior do que pude dispor aqui.
Leitura muito interessante de uns dias atrás.
Garota, mulher, outras, da Bernardine Evaristo (traduzido por Camila von Holdefer, Companhia das Letras, 2019), ganhou o Prêmio Booker, um dos maiores do Reino Unido em 2019, foi uma grata surpresa pra mim. Que livrásso!
É um puta livro tanto por sua forma, como por seu conteúdo, experimentados de maneira realmente fascinante!
A começar pela forma: “fusion ficcion”, ou ficção de fusão como a autora mesma diz, numa mistura de poesia, prosa e frases longas; a falta de pontos finais, que causa certa estranheza, inicialmente, mas que flui na medida em que se familiariza com as personagens e tramas, traçando um ritmo poético muito interessante; uma estrutura que não corresponde ao convencional e que torna o próprio enredo das personagens livre, ou seja, a forma contribui para que o conteúdo se desenrole de maneira mais solta, menos linear.
Quanto ao conteúdo, é inexplicável como a Bernardine consegue expor cada uma das 12 protagonistas – a mais nova tem 19 anos e a mais velha, 93 – em suas vozes internas e externas, de diferentes personalidades, concepções de mundo, num processo multi/intergeracional interessantíssimo.
Ao ler, passamos a admirar cada mulher da qual sabemos mais e através das próximas mulheres, retomamos a(s) mulher(es) passada(s), num claro movimento humano: o do ser plural, subjetivo e transformador de si.
Engana-se quem achar que são histórias isoladas, capítulo a capítulo. Todas as histórias se encaixam umas nas outras, trazendo questões importantes, como a relação mãe & filha, raça, sexualidade, gênero, trabalho, tudo isso criando uma grande e poderosa narrativa feminina.
O navio cargueiro Ever Given, de 400 metros e 220 mil toneladas, encalhou no Canal de Suez, no Egito, no último dia 23 de março do presente ano. Hoje, 30 de março, data desta postagem, as marés ajudaram o gigante a desencalhar. (vi no UOL)
Um viva pra LUA!
Marca da Palavra
Esse é o IG de um amigo, o Marcus Vinicius, que ficou de me mandar alguns outros poemas e até agora nada..., mas ok.
São poemas bem legais!
🛳
O meganavio encalhado! Se não é a metáfora das "nossas vida tudo", eu já não sei mais o que é! Essa matéria ilustra bem o ocorrido, em memes e teorias. Achei fantástico e didático!
🚀
Talvez a coisa mais legal que você verá hoje. Eu vi faz um tempo na newsletter da Margem... como as pessoas são tão... diferentes umas das outras e... malucas!
Você é um astronauta, vendo o planeta terra de cima, observando as pessoas, em momentos fugazes. São vídeos de zero visualização no Youtube, com exceção de você rs. Não têm nome. Apenas momentos (infames ou não) das pessoas. Bizarro e humano! Clica: Astronaut
🎧
Uma música nova do Teenage Fanclub, de tantos cds’s, de tanta história e os caras conseguindo criar coisas lindas ainda: The Sun Won't Shine On Me
(mas, caras, o sol vai brilhar sim, podem crer!)
E eu amo umas premiações, né. Adoro ver as roupas, as performances, as gafes... Aí teve o Grammy e a minha musa eterna, a Fiona Apple, que foi indicada em três categorias – ganhando duas, de melhor álbum de música alternativa e melhor performance de rock – e não foi à premiação, alegando “quero ficar sóbria e não posso fazer isso sóbria". Isso aí, Fiona! Nossa sanidade vale mais que uma noitada, mesmo que no Grammy!
A música que a Fiona ganhou foi a Shameika, que fala sobre uma amiga da Fiona da época da escola. A “verdadeira” Shameika, que é rapper hoje, agora chamou a Fiona para outra música, a “Shameika Said”. Que história legal!
Fiona Apple soltando o verbo em alguma premiação da MTV nos anos 90’
Teve a Brittany Howard (vocal do Alabama Shakes), que ganhou com melhor música de rock com “Stay High”. Sou apaixonada nela!
Deixo aqui os álbuns delas, pra você que não as conhece:
“Fetch the Bolt Cutters” - Fiona Apple
“Jaime” - Brittany Howard
🎬
Futuros Presentes - tá rolando uma mostra muito legal com filmes europeus no Sesc Digital, numa parceria do Sesc São Paulo com a Eunic (European Union National Institutes for Culture). São filmes que abordam debates de interesse global, para traçar rotas sobre futuros possíveis. Aqui, deixo pra você o folheto-vídeo de abertura que explica a programação. Tem vários filmes massa! Deles, destaco o lindo Antártica: Uma Mensagem de Outro Mundo e o Vênus - Vamos Falar Sobre Sexo. Vale DEMAIS!
🎞
Lembra que na edição passada falei um pouco de fanzine? Assisti Moxie (Amy Poehler, 2020), um filme da Netflix leve, teen, feminista, com trilha sonora do Bikini Kill e com temática dos zines. Eu passaria esse filme na escola fácil pra molecada! Façam seus levantes, garotxs xófens!
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Golpe de estado na Argentina, como PorLiniers ilustrou aqui. Não podemos esquecer da história daqui também!
Museu do isolamento: o movimento é sexy!
☕️
~ isto é um pouco wabi sabi, sabe? ~
💌
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Cuide-se,
Fer
🦑
Audrey Hepburn te dá um tchau!