# 4 - Daft Punk já era, o filme de Edward Hopper e fanzines
1 de março, São Paulo.
Olá!
Saudações quarentenísticas!
Bem, ainda estamos em quarentena, né? Não é bem uma quarentena, quarentena, mas a ideia de quarentena (ficar em casa) é a que prevalece, certo?
Ainda não escrevi aqui sobre o que temos passado com a pandemia de Covid-19, exceto um texto sobre os aspectos da quarentena, postado no longínquo Facebook em meados do ano passado. Minha ideia com ele é ver se tudo o que falei lá ainda nos assola e, quem sabe, atualizá-lo (com as mais terríveis constatações, infelizmente).
Muito se fala por aí sobre a pandemia e seus desdobramentos. Na verdade, cada pessoa, em suas relações, sente de maneira distinta essa tragédia que parece nunca acabar!
Aqui prefiro tentar olhar o agora, me cuidar e trilhar formas de driblar a agonia, a impotência e a raiva.
Muitas coisas mudaram do começo da pandemia pra cá?
O que mudou aí com você? Me conta?
Seguimos!
Ah, novidades!
Fui lá no Canva e criei uns cabeçalhos novos para as seções da news. Eu adoro as colagens que abriam as cartinhas – eu fiz num app –, mas quis fazer algo mais personalizado, de nada profissional.
As cores mais vivas me atraem, especialmente o rosa e o vermelho. O título oficial da news, bem como os das seções: bom, como reflito minimamente sobre as coisas aqui e tento trazer essas reflexões pra você, deixei bem claro mesmo: ALGUMA REFLEXÃO SOBRE TUDO. Pronto. Ah, tem a imagem de uma menina no canto superior direito. De alguma forma ela me representa, talvez no olhar desconfiado kkkk .
Lembrando que as seções ALGUMA REFLEXÃO e ALGUMA REFLEXÃO E OUTRAS (mais reflexões) dizem respeito a alguma reflexão, dentre tantas outras, de outras tantas pessoas, não esgotando o(s) tema(s), nem colocando meus apontamentos como os mais coerentes ou verdadeiros. Muito longe disso! O pronome indefinido aí empregado pressupõe tal ideia.
(aquele PS: reforço, abra a cartinha até o beijo que a Lana Del Rey vai te mandar, blz?)
Bora ler com a Matilda?
Matilda lendo seu livrinho :)
Uma breve história dos fanzines e newsletters
Em algum grau, todos nós queremos algo ou alguém que nos dê um caminho, nos mostre algo em que pensar, nos pegue pela mão e diga: vá por ali que vai dar bom.
Tento compartilhar, aqui ou lá nas outras redes, coisas que acho legais, dicas de filmes, links interessantes ou artigos inúteis – por que não? Precisamos desopilar, gente.
As newsletters têm esse papel para mim ultimamente, como fonte de informação sobre assuntos que me chamam atenção e para conhecer coisas das quais nunca pensei ver, ler ou ouvir. Nesse sentido, faço uma comparação entre as cartinhas que chegam por e-mail e o frenético escambo e envio dos fanzines de outrora, lógico, rememorando os baús da memória.
Na era do e-mail e das “mgs do zap”, escrever uma carta (pega essa ideia!) parece algo muito distante. Hoje não saberia nem onde comprar um selo!
💌
Tive, porém, uma fase carteira. Quando eu era mais jovem 🙄 e descobri o punk rock – ô fase maravilhosa, ainda escreverei sobre isso –, me comuniquei com muitas pessoas através de cartas para o envio de zines, hoje quase extintos, pelo que eu saiba. Os zines foram parte importante na minha vida e, acredito, na disseminação do movimento punk rock e da contracultura, baseados no DIY – do it yourself, ou o faça você mesmo.
Talvez eu sempre quis ser lida, né?
>> Pra montar os zines, era simples e prazeroso: em geral, duas folhas sulfite A4, dobradas ao meio, totalizando oito páginas. Na capa, o nome do zine, alguma colagem ou desenho. No interior, mesclávamos letras de músicas punk com protestos riot grrrl e para compor os títulos, colávamos recortes de letras de jornal ou revista, algumas vezes escritos à mão. Havia poeminhas e pequenos textos furiosos e mais colagens. Algum amigo que desenhava contribuía com alguma arte tosca, mas afetiva para as nossas edições. No final da expulsão de todos os demônios e revoltas, deixávamos registrado quem “produziu”, quem colaborou de alguma forma, endereço do fotolog e algum mandamento do tipo “punk rock não é só pro seu namorado”, da banda de Brasília Bulimia ou, numa versão mais emo, “there is a light that never goes out”, dos Smiths. <<
Achávamos demais! Era como um trabalho de escola, só que sem ser para escola, sem valer nota, com a forma e conteúdo que nos interessava de verdade. Na real, era nossa própria identidade sendo formada ali, por meio das pouquíssimas folhas xerocadas em PB.
Os enviávamos por carta. Deixávamos algumas cópias por aí, em shows ou na Galeria do Rock, em São Paulo, com o nosso CEP e pronto, logo chegavam as respostas, com novos zines pra conhecer, numa troca foda de insatisfações, descobertas, desenhos, contos, opiniões, bandas pra ouvir, datas de shows, resenhas e muita liberdade.
>> Era muito charmoso e aqui bate uma nostalgia forte! <<
Já parou para pensar que há um paralelo entre os zines de antes e as newsletters de agora?
Tenho seguido algumas tantas newsletters e percebo que os formatos, fontes, conteúdos, cores, assuntos abordados e as formas de comunicar determinado assunto fogem de um padrão editorial, assim, mais formal. As news têm essas semelhanças com a produção dos fanzines, que contavam com a liberdade da criação, do formato, etc., claro que aqui desconsidero a linguagem digital, que se apropria de outros recursos (se melhores ou piores, isso eu já não sei).
No mesmo sentido, as pessoas que “consomem” tais informações estão ali porque verdadeiramente querem estar na lista dos envios e receber algum conteúdo que os faça ver outros assuntos e visões de mundo. Digo que os assinantes de boletins e o povo dos zines são o clubinho do underground, seleto e único (e suspeito, como boa parte de quem nos lê ou segue).
Uma newsletter não costuma “bombar”, ou viralizar, como um post no Facebook ou no Twitter, então, alguns conteúdos desses boletins, geralmente, tendem a abordar temas mais profundos ou desafiadores, por isso mais “autênticos” também, tal qual os zines já demonstraram lá atrás. Esses envios periódicos dos e-mails apresentam certa rigidez à fragmentariedade de outras plataformas, que dão a informação pela metade ou se aprofundam de maneira rasa. Costumam, com isso, apresentar mais liberdade, já que se encontram num “mundinho fechado”, o tal clubinho que falei.
Assim, concluo esta historinha acreditando que o que tenho feito aqui é: escolher um assunto, apresentá-lo como o vejo, acrescentando alguma crítica ou reflexão, inserir as imagens que representam e outras informações correlatas, arrumar tudo bonitinho aqui, com bastante GIF de preferência, e distribuir livremente pra quem tem uma mínima vontade de ler, refletir e pensar a respeito. E foi exatamente isso que fiz lá nos anos 2000.
🤘
Lembra da ideia da carta lá em cima? Então...
Cartas são tocantes, ainda mais quando falam de amor!
O livro Cartas Extraordinárias - amor, organizado por Shaun Usher e lançado pela Companhia das Letras, é um intervalo entre um livro e outro, uma pausa necessária para embarcar numa nova história. Trata-se de um livro com várias cartas de músicos, atores e atrizes, artistas e escritores para os seus amados e amadas, para seus filhos ou para uma garrafa uísque!
Difícil é dizer qual carta é a mais comovente. Todas são fantásticas, mas aqui destaco algumas:
Tem a carta do escritor norte-americano John Steinbeck para seu filho, Thom, que se apaixona pela primeira vez e precisa de conselhos:
“... As meninas sabem ou percebem o que você sente, mas, em geral, também gostam que você diga...”
A da filósofa e escritora Simone de Beauvoir para Nelson Algren, com quem trocou cartas por dezoito anos. Numa delas:
“... Enfim, Nelson, eu sou tão sua, o que você me deu significou tanto, que você nunca poderia tirar isso de mim. E sua gentileza e amizade foram tão importantes para mim que ainda me sinto confortada, e feliz, e absurdamente grata quando olho para você dentro de mim. Espero que esta gentileza e amizade nunca, nunca me abandonem...”
Gosto muito da simplicidade carregada de tristeza da carta de Emilie Blachère para seu marido, Rémi Ochlik, fotojornalista assassinado na Síria em 2012 num ataque em seu apartamento. É tão simples quanto comovente:
“... Estávamos preparados para tudo, menos para o pior...Então vou secar as lágrimas e assistir a seus filmes preferidos repetidas vezes, aqueles que te deixavam feliz ...”
Um livro pra ser deixado ao lado cama!
Joaquin Phoenix deitado e lendo numa rede, em alto-mar!
Abrindo esta seção: se um alienígena encontrasse essas cartinhas, num mundo sem humanos, faria uma ideia do que vivemos nessa época.
As pessoas foram impedidas de circular, dada a transmissibilidade de um vírus altamente mortal. Ruas vazias.
(rua de Araraquara sem movimento nesta quarta-feira, 24/2, vi no G1)
Seção colaborativa!
Se você quiser deixar um textinho ou poesia, uma receita de bolo ou uma dica de como cuidar de plantas, sinta-se à vontade, só me escrever, você sabe como!
Te espero!
Sim, estou falando com você, De Niro e com você, estimado leitor!
Eta que hoje eu tô cheia dos links, viu?!
Crica neles!
🎧
E o Daft Punk, hein? Os tiozinhos anunciaram o fim dia 22 e muita gente sentiu. Eu nem sou uma fã contumaz deles, mas reconheço a impossibilidade de não soltar um sorriso c/ dancinha ao ouvir One More Time – o clipe, né, que é lindo.
Depois disso, coloquei uma playlist pra lembrar as músicas dos caras. Caramba, só musicão! A Dora do Semibreve escreveu um excelente texto sobre a dupla e pediu, em sua seção colaborativa, a música mais braba dos caras: mandei a Robot Rock, sem deixar de registrar a faixa que instaurou outro nível ao cancioneiro pop mundial, o hitásso Get Lucky, feat c/ Pharrell Williams e Nile Rodgers, parte funda da piscina demais!
Fiquemos com a magia dos caras, nas falas de um dos punks:
“Quando você sabe como um truque de mágica é feito, é tão deprimente... Nós nos concentramos na ilusão porque revelar como isso é feito imediatamente desliga a sensação de excitação e inocência.”
Farão falta! (clica aqui)
Ainda sobre o Daft Punk, dando aquela olhada nas coisas que saíram no IG sobre o fim, fiz um compiladinho de posts em homenagem:
um cara que dança Around the Word no gelo
céus ao som de Somenting About Us
as dancinhas que falei, essa de Lose Yourself To Dance
e street art para One More Time
✈️
Ah, eu não sei como isso se chama, mas eu me piro nisso: sites que te levam, “em primeira pessoa”, a lugares diferentes do mundo, por diversas experiências.
(recomenda-se abrir no desk c/ fone de ouvido, no celular a experiência é menos sensorial)
um barco que navega por um rio holandês, em 4K! – só queria ter um barco, um rio na Holanda...
imagine abrir sua janela e pá: Kazan, na Rússia! Tipo isso, pelo mundo todo, com som e tudo – sensação boa de abrir a janela em outro país.
dirija pelo mundo e ouça a rádio local – gosto muito desse, já que aprendi a dirigir há pouco tempo hehehe
🎬
Filmes, filmes!
Assisti ao lindo Minari (Lee Isaac Chung, 2020), de fotografia e trilha sonora tocantes. Conta a história de uma família sul-coreana que se muda pro Arkansas para tocar uma fazenda própria, já que trabalham na separação de pintinhos entre machos e fêmeas... Choque de culturas, sensibilidade e uma avó fora da curva. Sensível, humano.
E é claro que tem polêmica: o filme foi indicado como melhor filme estrangeiro, porém, apesar dos muitos diálogos em coreano, o filme é uma produção americana, do estúdio foda A24 (midsommar, florida project...), que o impede de concorrer como melhor filme na premiação. Hum, algo contra os sul-coreanos?
Também na saga dos filmes do Globo de Ouro, vi o On The Rocks (Sofia Coppola, 2020). Lançado, também, pela A24 e pela plataforma streaming Apple TV+, indicado na categoria melhor ator coadjuvante – muso Bill Murray ♥ –, o filme surfa na linha da comédia que eu, particularmente, não conecto com as outras produções da Sofia. Algumas críticas “rubensewaldfilhianas”: o filme traz todo percurso da história da personagem principal (ela suspeita que o marido a trai) e, no entanto, quem chama mesmo atenção, é seu pai, mulherengo e ausente. O filme passa a ser sobre este pai tentando se reconectar com a filha. Outro ponto “ruim” é a total falta de conexão do casal que, mesmo com uma suspeita de traição – que abala qualquer casal –, não consegue trazer o sentimento que ainda resta aos dois. Não convenceu. No mais, o filme fala sobre um pai que ama uma filha e a ajuda num momento complicado. Por isso, não deixa de ser massa!
🎨
Não conhecia o artista Edward Hopper (1882-1967) antes da pandemia. Suas obras são obre nus femininos, casas que representam a separação do homem com a natureza e solidão, bastante solidão. Visions of Reality (Gustav Deutsch, 2013) é um filme que foi feito todo baseado nas obras do artista! Completo no YT – vi num vídeo dele no canal Vivieuvi, aliás, o melhor canal sobre arte. Recomendo dar uma googlada no Hopper e depois ver o vídeo. Como eles conseguem criar cenas tão iguais às telas?
~ na garagem do prédio. já havia escrito sobre o Daft Punk e aí isso! aí, gente!!! 🤩
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Até a próxima e, por favor, continue usando a porra da máscara!
Cuide-se,
Fer
✨
Lana Del Rey, linda, te manda um beijo!